Sabem...? Nesta minha primeira gravidez fiz o rastreio combinado para as 3 trissomias mais frequentes (ainda que raras, mesmo assim): a 21 - síndrome de Down-, 13 - síndrome de Patau- e 18 - síndrome de Edwards-. Eu não queria muito fazer, porque isso não iria mudar grande coisa no decurso da gravidez (não iria abortar de qualquer forma). Mas por diversas razões que não vêm a caso, lá fiz.
Ecografia + umas pinguinhas de sangue et voilà: DONE. Uns dias depois, recebo um telefonema fatídico do Centro de Genética do Porto, a informar-me que o meu bebé tinha um risco muito elevado de ter síndrome de Down. O meu mundo desabou naquele momento. Foi o dia em eu e o AF tinhamos combinado ir ver um colégio onde gostavamos de inscrever o nosso filho.
Houve algum momento de negação, pois quase todos os casos que tinha visto de risco aumentado eram de 1/100, 1/75 no máximo. O risco do nosso bebé era 1/5. 1/5!! Parecia não haver hipótese do nosso bebé ser geneticamente "normal". Mesmo com os 80% de tudo estar bem, aqueles 20% agigantaram-se de uma forma indescritível.
Respirámos fundo, e por mais difícil que fosse, decidimos manter a calma possível, e continuar com a nossa vida de sempre. Iríamos visitar o colégio como combinado. E tivemos sempre a certeza de que o nosso bebé ia ser amado incondicionalmente, com ou sem um cromossoma a mais.
Combinámos fazer amniocentese, para termos a certeza. Preciso de imaginar e antecipar, e por isso se o nosso filho ia ter alguma deficiência cromossómica, queriamos estar preparados, sabendo. Mas ainda faltava uma semana para entrar na semana ideal para fazer este exame, e o resultado também demoraria mais algum tempo.
Sufoco da incerteza... Tinha dias em que tinha a certeza que ia correr tudo bem (fosse lá o que fosse bem) e tinha momentos em que me sentia claustrofóbica, presa naquela situação que não sabia bem definir.
Adorámos o colégio, trouxemos a ficha de inscrição, onde perguntava se havia alguma doença conhecida ou cuidados especiais a ter com o bebé. Nós ainda não sabiamos responder a isso...
Dias depois, chegaram os resultados escritos. Risco baixíssimo para síndrome de Edwards (1/44832), mas risco aumentado para síndrome de Patau (1/95) e o altíssimo para síndrome de Down que já referi. Tínhamos mais um risco para juntar aos medos. Ao telefone, dado o 1/5, nem me falaram na outra síndrome. Mas confesso que, tomada a decisão de fazer a amniocentese, não me concentrei muito no risco de Edwards... Já estava por tudo, era o que fosse. Haviamos de ser fortes. Haviamos de ser uma boa família para este novo ser. Eu tinha essa certeza...
Lá fiz a amniocentese... E com ela o medo dos riscos associados. Há o risco de aborto de cerca de 1/200. Mas mais uma vez, foram medos pequenos. Portei-me muito bem na espetadela, acho. Doeu, fez muita impressão, foi muito invasivo. Mas tinha a certeza que se ficasse muito quietinha, ia tudo correr bem. E fiquei muito quietinha também nos 2 dias seguintes, como recomendado.
E veio a espera... Pedi para contactarem o AF. Porque me custou muito dar-lhe a notícia do risco. Não queria ser eu a dar qualquer notícia que chegasse do Hospital. Queria que ma dessem a mim.
A amniocentese faz uma espécie de um mapa genético completo do bebé (incluindo dos cromossomas sexuais), mas foi pedido um resultado rápido específico para as trissomias que mais nos assombravam. Fiz a amniocentese numa quarta, o resultado chegaria na semana seguinte. Eu tinha esperança que ainda dissessem alguma coisa na sexta. Mas não disseram...
Mas também não disseram na segunda...
Na terça, o AF ligou ao médico, e ele disse que ainda não tinha novidades. O AF mandou-me uma mensagem a informar de que o sufoco ainda não estava para acabar. Estava eu a responder um "OH não!!!!!" muito sentido, quando entrou nova mensagem, a dizer "É NORMAL!!! E É MENINA!!!!".
Não sei explicar o que senti naquele momento. Mas apeteceu-me abraçar o mundo. Estava tudo bem, e a nossa Leonor vinha a caminho (eu sempre tinha sentido que seria menina).
Por que tivemos que passar por isto? Não sei. Há-de haver uma qualquer razão. Nem que seja valorizarmos a sério aquilo que nos parecia estar garantido... Pela minha idade, por riscos familiares, sempre achámos que tinhamos riscos baixinhos de algo correr mal. Foi um susto e uma "lição".
Ainda pode algo correr mal, não tenhamos ilusões... Mas cada passinho é valioso, e para já estamos apenas com espírito positivo.
Mamãs a quem aconteça o mesmo, não percam a esperança! Como dizem na Dodot, há-de tudo correr bem!
PS: Não julgo, de todo, quem decidiria abortar caso algum problema médico se confirmasse. Tenho noção de que é um compromisso para a vida e respeito todas as decisões a este respeito!