segunda-feira, 30 de setembro de 2013

"Sou uma mãe que também perdeu um filho. Quero dizer-lhe que ainda vai ser feliz"


Conheci o livro pela blogosfera, e mal me cruzei com ele numa livraria, sabia que o tinha de comprar... Os timings da vida são fascinantes. E este livro veio no momento certo. É curioso como uma experiência tão forte aproxima tanto pessoas que provavelmente antes não tinham nada a ver umas com as outras. É um marco tão avassalador da nossa história, que de repente nos sentimos íntimos de alguém, só porque ambos passamos pelo mesmo. Não é preciso muito mais...

Revi-me em muitas palavras dos pais do livro. As borboletas brancas, os passarinhos, que nos fazem lembrar os nossos pequenitos que partiram. A abertura dos nossos olhos e do nosso coração à beleza da Natureza, ao aproveitar a calma do sol, da chuva, do nevoeiro, do frio e do calor, ao sentir tudo o que for bonito e se cruzar no meu caminho, tocar-nos de maneirsas nunca antes sentidas. A sede de querer viver tudo o que pudermos, e mesmo o não fazer nada e apenas contemplar, saberem a muito. A vontade de construir algo com a maior dor que já sentimos. A urgência de encontrar um sentido para tudo isto. A vontade de querer avançar, e às vezes não saber bem como. A inércia de por vezes ver o mundo a andar freneticamente, e nós estarmos como que parados no tempo. E a força de cada palavra, cada gesto, cada lembrança relacionada com quem partiu... Como alguém diz no livro a um dos pais, e é bem verdade:

"Não sei como se sobrevive à morte de um filho. Mas achei que, se me acontecesse, gostaria de saber que o meu filho tinha marcado a vida de alguém".

Obrigada a todos os que, diariamente, me contam como a Nô marcou e inspirou as suas vidas.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Prematuridade (e 3 meses sem ti por cá...)

Hoje era a data prevista de parto da Leonor. Em vez disso, faz três meses que ela nos deixou.

Ainda não sei qual terá sido a missão dela por cá, mas acredito que a passagem dela foi importante. Se tentar pensar sobre isso, de uma coisa tenho a certeza: ela trouxe à minha vida uma temática antes quase desconhecida: a prematuridade.

Não fazia ideia da guerra que era. Agora faço... Foi um caminho curto, o meu, mas serviu para compreender a violência da rotina dos pais prematuros.

Viver a Prematuridade com um bebé numa Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais é:

- Conhecer o nosso bebé muito antes do previsto, muito antes de estarmos preparados a vários níveis para o receber.

- Ultrapassar a ideia de que não vamos ter a rotina da gravidez e nascimento de um filho como a maioria das pessoas à nossa volta têm, e como imaginámos nos nossos sonhos e antecipações.

- Conhecer o nosso bebé através de uma barreira física, e gerir o balanço entre o ímpeto de o abraçar e o pavor de o infectar.

- É fazer contas e mais contas, para tentar perceber as prioridades de quem há-de conhecer o filhote primeiro, porque o número de visitas é limitado (na UCIN onde a Leonor esteve era 1 por dia, durante 5 minutos.) Ainda hoje lamento tão pouca gente tê-la conhecido para lá dos vídeos e das fotos.

- É sofrer, como mãe, a cada picada, cada transfusão, cada acto mais invasivo, cada dose de radiação a um corpinho tão pequenino, cada cirurgia (por esta a Nô não chegou a passar).

- É estar nervoso 24/dia (muitas dessas horas ultrapassa-se o nervosismo e passa-se a pânico), não ter fome, não ter vontade de fazer mais nada senão estar ao lado da incubadora, a fazer, no fundo, NADA. A olhar, a cantar, a falar, a AMAR.

- É a dor de sair a porta do Hospital, para dormir, sabendo que não levamos o nosso tesouro connosco, e sentir o vazio em casa... Pois era suposto o bebé sair do casulinho da nossa barriga, para nossa casa. E ele não está já num sítio nem noutro.

- É não conseguir descansar. É dormir umas horas, para o mais cedo possível acordar, tomar banho e vestir à pressa para correr para a UCIN.

- É o aprender realmente o que significa viver um dia de cada vez e fazê-lo na sua plenitude.

- É o pânico de na UCIN haver praticamente sempre um alarme a apitar... É olhar à volta para ver de que bebé é o alarme... Se é do nosso, se do vizinho...Depois de percebermos que é do nosso, perceber se é a saturação, a frequência cardíaca, a frequência respiratória, a sonda que terminou de passar o alimento, a temperatura corporal, a temperatura da incubadora, a humidade...e tentar perceber se é grave, ou uma alteração momentânea ou de mau contacto.

- É muitas vezes tirar leite para ninguém... porque é provável que o bebé venha a precisar, mas ainda não está suficientemente preparado a nível intestinal para começar a receber.

- É sentirmo-nos excluídas da maternidade... Vermos que somos totalmente inúteis para o nosso bebé, e têm que ser pessoas especializadas a "mamã" do nosso filho. São eles que dão o banho, mudam a fralda, alimentam, e nós ficamos de fora, quais seres estranhos ao nosso tesouro, a olhar...

- É manter a esperança para além do que imaginávamos. É ir buscar forças para além do que achávamos possível. É sofrer de maneiras que nunca nos passaram pela cabeça. É viver como nunca previmos. É ver a vida a passar à nossa frente, e nós parecemos estáticos, mas mudamos. Mudamos a forma como vemos a vida, as relações, o amor. Mudamos... apesar do mundo continuar o mesmo.

- É o pânico de, quando não se está na UCIN, receber uma chamada. 

Nós só recebemos uma, mas foi a chamada mais dura que recebi na vida. E provavelmente a mais dura que receberei... 

Tocou o telemóvel do AF, eram 5 da manhã. Acordámos estremunhados, e ele não foi a tempo de atender a chamada. A seguir tocou o meu. Não havia dúvidas do que seria...

- "Mamã, a Leonor não se está a portar lá muito bem... Se calhar era melhor virem"

Não me lembro de me vestir. Lembro-me de chorar, de repetir para mim "tudo há-de correr bem" mil vezes, para mim e em voz alta. Disse-o até à entrada do Hospital. Disse-o para mim própria, quando a médica disse que as coisas não estavam famosas... Que provavelmente era o fim. Quando a enfermeira disse o mesmo. Quando percebi que nos estavam a tratar com pena. Quando percebi que já não se preocupavam com as infecções, e me iam deixar pegar nela. Repeti-o até à exaustão, enquanto a tinha ao meu colo, e via as frequências cardíacas no monitor variarem entre 30 e 200 em gráficos malucos. "Tudo há-de correr bem, Leonor!". Disse-o para mim mesma quando a máquina deu frequência cardíaca zero. Acreditei que era mais um mau contacto das máquinas... Acreditei até a Leonor partir.

E depois de tudo isto, tenho para mim que o devo continuar a repetir até ao fim dos meus dias: 

"Tudo há-de correr bem!".



terça-feira, 24 de setembro de 2013

domingo, 22 de setembro de 2013

Amor # 1



A tartaruga que queria fazer amigos :) E encontrou-os. Amigos improváveis, mas encontrou!

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

A Ciganita

Fui à consulta de acompanhamento pós-parto. A caminho do piso da consulta, uma ciganita pequenina começou a correr à minha volta, a cantar um alegre "LALALALALA". Sorri para ela. Logo depois vem a mãe, com um ar desesperado, e põe-me um papel na mão.

- Maria!!! Pára com isso,não incomodes as pessoas! Menina, eu não sei ler! Diz aqui quando é a próxima consulta? Em que dia e a que horas?

Espreitei o papel. 

- A médica escreveu aqui que é no dia 18. As horas é que não escreveu.

Pensei um pouco nos procedimentos habituais, e acrescentei:

- Mas foi à secretaria? Tem que ir lá com este papel, e eles depois é que confirmam.

- Mas onde é a secretaria? Eu não sei! Eu não percebo nada disso!

- Não faz mal. Venha lá comigo...

- Vai para lá? Também está grávida?

- Estive.

- Então o bebé?

- A bebé nasceu cedo demais, às 26 semanas. Seis dias depois, partiu.

- Xiiiiiii!! 26 semanas??? Coitadinha!!... Hmmmm....26 semanas... isso é pouco não é? Quantos meses são?

- À volta dos 6 meses e meio.

- Ah... É pouco, não é? Eu também perdi 3 antes daquela - e apontou para a pequenita que cantava. - E tenho um de 3 meses em casa. E agora tenho este na barriga.

Sorri. Ela sorriu.

Lá chegámos à secretaria, e marcaram a consulta.

- Que bom que vim consigo, porque isto é longe de onde eu tive a consulta. Não sei se dava com isto. Obrigada!

- De nada. E felicidades para os pequenos todos.

Agarrou-me na mão, e ao contrário da maioria das ciganas que me agarraram na mão naquele Hospital, ela não olhou para a mão, a tentar cobrar-me por uma leitura de sina. Olhou para mim a acenar com a cabeça, e disse:

- Não tarda vai ter também um bebé. E com os 9 meses todos! Tem que ter muita força, mas vai correr bem.

Foi a primeira vez que não me queriam ler a sina, e foi a primeira vez que eu gostaria que aquelas palavras fossem realmente o meu futuro :)


[PS: Não usei a palavra "Ciganita" com qualquer tom depreciativo, obviamente. Usei-a porque me faz lembrar uma saga de que gostava em miúda, com "Os Cinco e a Ciganita". E porque neste caso eram bastante concordantes com o estereótipo :)]

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A "minha" novela :)


Já não via nenhuma desde "As Mulheres de Areia". Mas gosto desta...Apesar de ter ideia que sou das únicas pessoas a ver. Vá lá, se há mais alguém por aí, apareçam, para discutirmos coisas importantes como o futuro filho do Fernando, a relação do Padre Luís com a Marina, a Teresa vir para a aldeia para ficar com o Xavier, ou o João finalmente ir à vidinha dele, porque é das personagens mais irritantes de todos os tempos...

Anyone?