[Para todas as mamãs e papás que perderam uma fadinha ou um pequeno mago do Amor]
Era uma vez uma Pequena Fada. Era
uma Fada, mas era tão pequenina, que todos lhe chamavam Pequena Fada. Ela tinha
muita magia dentro dela, e estava sempre a lançar os seus pozinhos mágicos por
onde passava. Tinha muitas outras amigas fadas e todas tinham um poder muito
especial: havia a Fada da Alegria, a Fada da Esperança, a Fada da Fé, a Fada da
Força, e a Pequena Fada era a fadinha do Amor. Ela nunca poderia ser muito
grande, porque o seu poder era tão forte, tão forte, que se ela tivesse o
tamanho das outras Fadas, esta Pequena Fada poderia explodir o mundo com o seu
poder. As Fadas andavam pela Terra, a espalhar os seus pozinhos. Os humanos não
as viam, mas elas não paravam: sempre para cá e para lá, quais anjos da guarda
de todos aqueles que precisassem. E mal as outras Fadas sabiam que a Fadinha do
Amor era das mais aterefadas... Primeiro porque era mais pequenina, e tinha que
voar mais do que as outras. Depois, porque pela Terra inteira havia sempre
alguém a chamar a Fadinha e a pedir algum do pozinho dela. E ela nunca deixava
ninguém ficar mal!
Certo dia, a Fadinha chegou junto
de uma menina e um menino que chamaram por ela. Tinham muito amor para dar, mesmo
sem o pozinho dela... Ficou intrigada com o casal, e ficou algum tempo junto
deles. Percebeu que eles também tinham um pozinho mágico, e espalhavam amor um
para o outro e à sua volta. Mas o pozinho deles só podia ser visto pelas Fadas,
eles não faziam ideia que tal coisa existia. A Pequena Fada ficou curiosa, e
quis saber mais. Tentava chamar-lhes a atenção, mas eles não conseguiam ver a
dimensão das Fadas. A Pequena Fada começou a esmorecer...adorava experimentar o
efeito do pozinho do Amor deles, e não conseguia falar com eles para lhes
pedir. Nem sequer para lhes explicar o que era o pozinho do Amor. Nem ainda que
um dos grandes problemas do mundo das Fadas, é que o pozinho de cada uma só
funciona nas outras, não nelas próprias. Por isso, a Fadinha não sabia o que se
sentia com o poder do pozinho do Amor. Ficou um pouco triste... mas a Fada dos
Desejos sentiu, e veio logo ter com a Pequena Fada:
-Fadinha do Amor...o teu coração
chamou-me. Precisas do pozinho dos desejos? O que desejas tu?
A fadinha encolheu os ombos,com
um ar abatido, e respondeu:
- É que eu queria sentir o
pozinho do Amor. Este casal podia-me ajudar, mas... Gostava tanto que eles me
pudessem ver e me lançassem o pozinho deles!
A Fada dos Desejos sorriu.
-Sabes, Pequena Fada... eu
posso-te ajudar. Posso fazer com que eles te vejam, e acertem com o pozinho
deles em ti, se eles assim decidirem. Mas para isso tens sair da dimensão das
Fadas e entrar na dimensão deles. Se eu te pusesse na barriga da menina, podias
nascer como os humanos nascem. E tenho a certeza que, mal te vissem, não
hesitariam em lançar-te o pozinho. O deles também é de uma magia muito forte,
como o nosso, mas acho que eles nem compreendem que o têm! É muito raro algum
Humano saber isso... Algumas Fadinhas tentaram esta aventura antes, e não
conseguiram ficar lá muito tempo. O meu pozinho é forte e consegue-te levar lá...
Mas só consegue arranjar-te um corpo pequenino como o que tens agora, e olha
que na dimensão deles, um corpinho como o deles desse tamanho é muito frágil.
Se tiveres que vir embora rápido...estás preparada? Consegues fazer tudo em
pouco tempo?
-Oh, Fada! Sim! Eu faria tudo nem
que fosse por um segundo em que eles me pudessem ver e me dessem do pozinho
deles... Só queria sentir a magia do pozinho do Amor!
-Então está combinado. E depois
não vais ter saudades deles, quando tiveres que voltar para cá?
-Então não vou poder continuar a
ir ter com eles sempre que quiser, e sobretudo sempre que eles me chamarem?
-Claro, Pequena Fada...
A Fada dos Desejos não verbalizou
a sua preocupação. Mas sabia que o desejo da Pequena Fada em conhecer o pozinho
do Amor daquele casal era tão forte, que nem lhe passava pela cabeça que no fim
custasse voltar à dimensão das Fadas. Mas não fazia mal... Se fosse preciso,
chamariam a Fada da Saudade...
Assim, como combinado, a Fada dos
Desejos lançou o pó mágico dela à Pequena Fada, que rapidamente se viu dentro
da barriga da menina. Sentiu logo muitos arrepios bons... não sabia bem se já
era aquilo que se sentia com o pozinho mágico do Amor, mas sabia que se sentia
muito bem. Era um aconchego muito grande, e um enorme prazer ouvir o menino e a
menina a conversar e a menina a cantar. Era tão bom saber que a consideravam
família, e que estavam a planear muitas coisas para fazerem os 3! Quem lhe dera
aguentar-se ali muito tempo...O tempo! Esse, passava rápido naquela dimensão, e
não tardou muito a estar do mesmo tamanho que tinha na dimensão das Fadinhas.
Pelas conversas que ouvia, percebeu que era suposto ter demorado mais tempo a
crescer, ou talvez devesse ter crescido mais, algo assim...
“Mas este era o meu tamanho do
outro lado!”-pensava a Pequena Fada. Não percebia, mas sabia que não ia crescer
mais, e começava a ficar impaciente... Queria sair da barriga, porque conforme
a Fada dos Desejos lhe tinha dito, podia não se aguentar muito tempo. Por isso,
nada de desperdícios!
Ficou muito contente quando
percebeu que a iam ajudar a sair da barriga, e ia voltar a ver o menino e a
menina.
Pediu a ajuda da Fada da Força, e
apesar de não a ter visto, sentiu o seu pozinho a fazer efeito. E aguentou tudo
naquela dimensão. Com ajuda dos humanos, sim, mas a magia também deu uma
mãozinha preciosa! Finalmente, chegou a tão esperada hora... Estava numa
caminha muito confortável e apesar de ainda estar a habituar-se a ficar
deitada, sem voar e tanto tempo no mesmo lugar, mal pôde pensar nisso... De repente
viu uma sombra grande, enorme, mesmo! Abriu ainda mais os olhinhos, e
reconheceu-o: era o menino! Mal cruzaram o olhar, a Pequena Fada quase deixou
de respirar... Não o viu, mas sentiu o pozinho do Amor do menino percorrer cada
célula do seu corpo. Foi a sensação melhor que já tinha tido na sua longa vida
de Fada, e, claro, na sua pequena vida na dimensão dos humanos. Foi uma
sensação tão avassaladoramente boa, que logo depois teve que descansar. Mas
mesmo enquanto dormia, parecia sentir o arco-íris daquela sensação que nunca
havia experimentado antes. Por sua vez, o menino percebeu pela primeira vez que
tinha aquele pozinho mágico...E ali ficou, fascinado, a vê-lo descer sobre a
Pequena Fada, perguntando-se como era possível nunca ter visto aquilo, e nunca
ter sentido antes nada assim.
O menino não largava a Pequena
Fada, e lançava o seu pozinho, pela primeira vez de forma consciente. Com o
olhar, com a voz, com a pontinha dos seus dedos ao tocá-la... Algum tempo
depois, a Pequena Fada sentiu o poder do pozinho ficar ainda maior. O que
estaria a acontecer? Ah! Era a menina, que se tinha juntado ao menino, e agora
ambos lançavam o seu pozinho sobre a Pequena Fada... A menina também estava
fascinada com a existência do pozinho mágico. A Pequena Fada queria conversar
com eles, e explicar-lhes que também ela sabia lançar o pozinho do Amor. E
agradecer-lhes tê-la ajudado a perceber o que os outros sentiam quando lhes
lançava a sua magia. Mas as palavras não saíam! Ela fazia o que podia para lhes
dizer tudo isto com o olhar, com as mãozinhas, com gestos. Não sabia bem se
eles compreendiam, mas como eles continuavam a lançar o pozinho, achou que sim.
A Pequena Fada achou que não
seria fácil voltar a sentir algo assim tão bom! E sentiu que tinha criado uma
ligação muito importante com o menino e a menina. Mas sabia também que o seu
tempo naquela dimensão havia de estar a terminar. E tanto trabalho acumulado
que teria na outra dimensão quando voltasse!
Tinha pena de não poder dizer ao
menino e à menina que ia ter que partir brevemente... mas talvez eles no fundo
soubessem! Talvez...
Teve a certeza que eles não
sabiam quando sentiu chegar a sua hora...O seu corpinho começou a projectar-se
de novo para a dimensão das Fadas, e muitos outros meninos e meninas parecidos
com o seu menino e a sua menina vieram para a volta dela. Não percebiam o que
se estava a passar,e não conseguiam ver que que ela estava apenas a começar de
viajar entre dimensões... Os Humanos não percebiam nada daquelas viagens! Pediu
ajuda à Fada dos Desejos, pois aceitava as condições dela, e sabia que tinha
que regressar. Mas queria só despedir-se do menino e da menina!
Por magia, eles apareceram,
parecendo ter vindo a correr. A Pequena Fada agradeceu à Fada dos Desejos, e
começou a tentar explicar que tinha que partir... Era tão frustrante não
conseguir falar ali! Mas os outros meninos e meninas deram uma ajuda... Puseram
a Pequena Fada no colo da sua menina, e assim bem juntinhas, apesar de custar
muito, conseguiu fazer umas festinhas com a sua mão pequenina no peito da sua
menina. Os pozinhos fundiram-se, e criou-se uma luz muito grande entre elas.
Muitas Fadas poderosas sentiram aquela energia, e todas quiseram vir espreitar
o que se passaria ali... Entretanto o menino juntou-se, e a Pequena Fada juntou
mais algumas forças para receber o pozinhos que ambos trocavam com o olhar...
Mais Fadas se juntaram, e a Fada do Desejos disse:
-É a hora, Pequena Fada...
Todas as Fadas lançaram os seus
pozinhos, e o menino e a menina sentiram tudo o que podiam sentir num só
segundo. Não sabiam bem explicar o que lhes tinha acontecido, mas sabiam que
tinha sido algo grandioso e especial. Não viam os pozinhos todos, senão tinham
compreendido logo!
Entretanto, já a Pequena Fada
tinha regressado à sua dimensão, e viu todas as Fadas suas amigas. Sorriu de
orgulho no menino e na menina, e ficou contente por ali já conseguir falar:
-Adorei! Adorei... Vocês haviam
de experimentar os vossos pozinhos também...É a melhor sensação do mundo!
As outras Fadas estavam
cabisbaixas. A Pequena Fada ficou surpresa, e depois percebeu...o menino e a
menina choravam muito. Eles não deviam ter percebido o que se tinha
passado...só se tinham apercebido da ausência da Pequena Fada. A Fada da
Saudade lançava, desesperada, o seu pozinho...mas não estava a resultar... A
Pequena Fada ficou triste, e tentou também lançar o seu pozinho. Eles
sentiram-no, mas não se conseguiam consolar.
A Pequena Fada manteve-se junto a
eles... Não parava de lhes lançar o pozinho mágico e eles na maioria das vezes
sentiam-no. Mas a ausência do corpinho dela fazia-lhes confusão. E não
percebiam nada daquilo. Mas a Pequena Fada não desistia de lhes tentar
explicar, e agradecer a experiência que lhe tinham proporcionado. Tinha sido
tão importante para ela sentir tudo aquilo! E como gostava de lhes dizer que
estava bem, e que estava sempre com eles...Mas não conseguia falar-lhes. No
entanto, falava com borboletas para lhes fazerem uma visita a contas a
histórias. Pedia aos passarinhos para lhes explicar a cantar. E lançava magia
em todas as coisas que eles viam, para tentar que percebessem. E apesar de não
verem a Pequena Fada, à medida que o tempo foi passando, o menino e a menina
foram crescendo na certeza de que ela estava com eles. Bastava chamarem-na e
ela lá estaria! E agora que sabiam que também tinham um pozinho mágico, acharam
que seria uma boa maneira de honrarem a Pequena Fada: lançar o seu pozinho
sempre que pudessem, sobre quem pudessem.
E assim passaram o resto da vida
em busca da mesma sensação que tiveram na presença da Pequena Fada. Por sua
vez, ela assegurou-se de que eles conseguiriam ser felizes para sempre, com ela
invisível para eles, mas sempre ao seu lado! E agora tinha a ajuda deles para
espalhar o pozinho do Amor pelo mundo.