sábado, 17 de março de 2012

Lembram-se daquele post sobre os médicos serem muito egoístas e só quererem ser ricos e tudo e tudo?

Nesse post falei dos comentários a notícias relacionadas com Medicina nos jornais online. Acabei de ler uma montanha desses comentários, e resolvi partilhar com vocês. 

Antes de lerem, podem ficar a saber que todos os dias sou bombardeada com notícias e discursos a darem a entender que não tenho outra hipótese senão emigrar. Dizem que num futuro muito próximo (e ninguém garante que não seja já este ano) não existirão colocações para todos os colegas que acabam o curso. E não se enganem: não podemos trabalhar; PONTO. Não temos autonomia para funcionar sozinhos. São precisos mais 2 aninhos para isso. Temos um cartão da Ordem com letras grandes, a vermelho, a dizer "NÃO AUTORIZADO A EXERCER MEDICINA COM AUTONOMIA". Precisamos de tutores que nos ensinem, e talvez já nem todos tenhamos. Talvez vamos para o desemprego, não porque não haja trabalho, mas porque não nos permitem aprender para trabalhar.

E todos os anos aumentam as vagas para o curso. Se calhar muitos entram a pensar que vão ser ricos (ou é o que a maioria das pessoas acha). Se estamos a formar médicos para o estrangeiro, ou para o desemprego, fará sentido aumentar tanto as vagas? É que a nossa formação é cara. MUITO CARA. Muitas vezes mais do que as propinas que pagamos.

Assim, penso que qualquer pessoa percebe que os colegas de Medicina do Porto se tenham preocupado com o caso, e não achem bem estes aumentos absurdos de vagas, sabendo que no fim nem todos terão direito à formação de especialidade (que é obrigatória e só com ela podemos trabalhar). Não é por egoísmo. Não é porque já estão lá dentro e agora não querem que mais ninguém vá. Não é porque querem manter a necessidade de médicos no país. Ainda se continua com aquele discurso típico, como se houvesse uma falta de médicos abismal no país. Se assim fosse, não teríamos ouvido o nosso querido Bastonário ocupar 60% do seu tempo de discurso de recepção dos novos médicos deste ano à classe, com "Vocês vão ter muitos problemas. Vocês não vão conseguir ter trabalho facilmente. Vocês já não terão vagas de especialidade para todos. Vocês, vão ter que emigrar aos MILHARES" - ele disse mesmo "milhares", juro.

Depois desta pequena partilha com vocês das minhas inquietações e da realidade da Medicina em Portugal, expliquem-me lá os comentários da dita notícia... Podem ler AQUI.

Acho que já não fazia um post tão grande há um tempinho. E aposto que não tinham saudades! 

10 comentários:

  1. O problema é a centralização dos recursos. Basta sair de Lisboa e já ninguém diz que sobram médicos. O pessoal de Lisboa acha que Portugal inteiro são 3 ou 4 cidades.

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    1. Prezado: mas se decidirem que não há dinheiro para pagar a internos ou médicos sénior que queiram ir para o interior não há nada a fazer. Se eu quisesse fazer contratos semelhantes aos que têm feito aos Colombianos que têm vindo (por exemplo) não aceitavam. Não garantem trabalho a muitos médicos de cá, e continuam a importar com muito melhores condições do que nos dão. Há muitas coisas que não batem certo. E apesar de eu agora estar por Lisboa, sou de Viseu e sei perfeitamente que Portugal não são 3 ou 4 cidades...

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  2. Infelizmente as pessoas são preconceituosas e adoram criticar sem conhecer a realidade. Há muita gente que vai para medicina pelo estatuto, pelo salário simpático e tudo mais... mas, apesar disso, a maioria dos médicos ainda são decentes e só querem ajudar. Concentrem-se nisso.

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  3. ADEK, tenho de concordar um pouquinho com o Prezado. Um médico devia querer ajudar gente de todo o lado mas só parecem interessados em estar no Porto, Coimbra e Lisboa... isso não me parece muito altruísta.

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  4. Os médicos não são sacerdotes...querem ajudar, mas querem ter um salário decente (não digo milionário, de todo!) e um local decente para trabalhar. Ainda por mais passam 6 anos em formação nessas 3 cidades principalmente, por isso é natural que por lá queiram ficar. E ficam, sempre que conseguem. No entanto, se fossem dados incentivos, como têm os magistrados, certamente iriam começar uma vida novo por esse Portugal fora...

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    1. São 6 anos de curso. A formação estende-se por mais alguns, na parte da especialidade. Quem for para medicina à procura de salários milionários está enganado... Não me posso queixar, mas sobretudo pela parte de acabar o curso e ter (ainda) um contrato (de um ano, para já) garantido. Quanto ao que recebo está na média dos meus amigos trabalhadores de outros cursos. Há quem ganhe um pouco mais e quem ganhe um pouco menos. Eu iria para o interior com as mesmas condições que me dão em Lisboa. Mas como não depende só de mim, e o meu marido não tem emprego no interior, vou tentando ao máximo manter-me por Lisboa... Mas tenho muito mas mesmo MUITOS colegas que foram para o interior! Casais de médicos que foram sem problemas. Até porque esses "incentivos" existem. Chamam-se as vagas preferenciais, que ganham mais com a contrapartida de ficarem no local da especialidade o mesmo tempo de duração dessa mesma especialidade.

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  5. Quero ressalvar que os médicos têm famílias, e não necessariamente no meio. E também gostam de partilhar o seu dia-a-dia com as mesmas, pois claro. Partilho o meu exemplo: o AF trabalha na área da informática, e só tem emprego na área em Lisboa ou Porto. Obviamente que, enquanto for possível, tudo farei para trabalhar numa cidade onde possa estar com ele, certo? E se tento fazer a minha especialidade por aqui, com certeza terei filhos pelo meio, e já não será o meu sonho andar a mudar de poiso. Se tiver que ser, irei, claro. E gostarei tanto de ajudar as pessoas do interior como as de Lisboa. Aliás, adorava mudar-me para Viseu e criar lá os meus filhos. Mas pelo AF é complicado. Talvez no futuro as coisas mudem e o deixem trabalhar a partir de casa, seja lá onde for a casa;)

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  6. Darling, mas tu ainda tentas? Eu já desisti completamente de falar destes assuntos com "leigos" (leia-se pessoas que não são de Medicina). As pessoas não sabem do que falam simplesmente, como se vê nos comentários acima. Não compreendem as coisas, continuam a usar as frases cliché que não querem dizer absolutamente nada. Os meus amigos, por exemplo (e são meus amigos) nem sequer acham que um banco seja alguma coisa de especial e dizem-me "mas eu no outro dia também trabalhei das 8 às 20h" e só me apetece responder "com pessoas a morrer debaixo das tuas mãos?". Eit, enfim, já aprendi a estar caladinha para não dizerem que sou snob ou que estou a insinuar que a Medicina é uma área diferente das outras. E comprovo, ele disse mesmo "aos milhares!".

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    1. Ainda tento, honey... Mas só às vezes. Poucas. Não me sinto bem a pertencer ao grupo dos maus da fita, sobretudo se assim forem considerados injustamente. Sempre me magoei quando as pessoas pensam mal de mim injustamente. Mas começo a habituar-me a não ligar. Aos pouquihos:P *

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  7. Confesso que não tinha noção de que a vossa situação também já estava assim. E lamento. Muito. Quanto aos comentários, eu, que trabalho na área da educação, há muito que deixei de os ler. São de bradar aos céus e muitas vezes escritos pela mais ignorante das pessoas.

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