Querida Nonô #13 Ultrapassar

Querida Nô:

Como previa, tenho andado muito mais atarefada. O tempo passa mais rápido do que passava quando estava só em casa, e os momentos em que choro por ti são menos. Mas sabes bem que aqueles em que sinto saudades de ti são cada vez mais. Mas já consigo ter muitas saudades tuas e sorrir, porque te sinto no meu coração. Às vezes sorrio e choro ao mesmo tempo, mas acho que é mesmo assim...

Gosto de falar de ti. Tanto da tua versão que foi um bebé pequenino, e me ensinou tanto, como da tua versão-alma, a que agora já não tem corpo e está em todo o lado. Há quem fale comigo de ti, não se sinta acanhado quando pronuncio o teu nome, e não me ache deprimente por te recordar. É a única maneira que eu tenho de ser mãe, por isso tenho que a aproveitar.

Por vezes também há quem diga "Tens que seguir em frente!", ou "Tens que ultrapassar...". Eu sei que também querem o meu bem, mas é importante que todos percebam uma coisa: o que havia a ultrapassar, eu ultrapassei. Aquilo que assustava os outros à minha volta (incluindo o papá, como ele me disse), e a mim própria... Eu queria ultrapassar aquela dor no coração, que dilacerava toda e qualquer esperança de voltar a ser feliz. Queria ultrapassar a falta de fé num futuro risonho, em sorrisos, e em risos. Queria ultrapassar aqueles dias em que não vislumbrei ponta de optimismo. E sei que me ajudaste muito nisso, e ultrapassei-os. Sem dúvida. Saí com a minha vontade de ser feliz reforçada. Saí com menos preguiça de fazer mais e melhor por quem me rodeia e me dá essa oportunidade. Saí menos angustiada com o facto de algumas pessoas não me deixarem fazer nada por elas, e não conseguiram ver nada para além das coisas negativas da vida. Saí com mais capacidade de dar liberdade às pessoas, e de as deixar ser como são, tomando também o direito de me afastar, se considerar que a liberdade dos outros me pode prejudicar a mim. Saí com mais vontade de ver cor, beleza, alegria e paz à minha volta. Saí com mais vontade de mudar o mundo aos bocadinhos (e com mais consciência de que sozinha tenho um poder demasiado limitado para o fazer). Saí com mais capacidade de seleccionar as pessoas que quero por perto (fisicamente ou em coração), e aparentemente com uma espécie de íman para pessoas boas, de corações gigantes, que me dão um orgulho enorme de me cruzar com elas. 

A minha vida mudou tanto, de tantas maneiras, que não posso fazer mais nada senão agradecer-te por teres parado nesta Terra 6 dias, nessa tua viagem pelo Universo e pelo Tempo. 

Tudo o resto, não vou ultrapassar. Não consigo! Para sempre te recordarei em momentos, melodias, palavras, sons e imagens. Para sempre quererei recordar-te perante o mundo. Para sempre falarei da minha pequena Guerreira, que nasceu a 20 de Junho de 2013, e ficou no meu coração o resto da vida. Para sempre serás a minha estrela, a minha bússola, o meu Norte, o meu Anjo-guia, a minha Fadinha do Amor.

O que havia a ultrapassar, está ultrapassado. Tudo o que resta, é a Ana depois de ti. A Ana depois da Leonor. Espero que gostem de mim assim também! Eu sei que gostas, filhota, e farei por ser alguém de quem te orgulhes até ao final dos meus dias. Obrigada, obrigada!

Sempre tua,

Mamã.