terça-feira, 23 de julho de 2013

" As pessoas têm estrelas que não são as mesmas..."

 "...Para os viajantes, as estrelas são guias. Paa outros, não passam de luzinhas. Para outros, os cientistas, são problemas. Para o meu homem de negócios, eram ouro. Mas todas essas estrelas estão caladas. Tu, tu vais ter estrelas como mais ninguém...
  - O que é que isso quer dizer?
  - À noite, pões-te a olhar para o céu e, como eu moro numa delas, como eu me estou a rir numa delas, para ti, é como se todas as estrelas se rissem! Vais ser a única pessoa no mundo com estrelas capazes de rir!
  E voltou a rir.
  - E quando te tiveres consolado (porque acabamos sempre por nos consolar), hás-de sentir-te muito contente por me teres conhecido. Hás-de ser sempre meu amigo. Vai-te apetecer rir comigo. E, às vezes, sem mais nem menos, vai-te dar para abrir a janela só porque é bom. E os teus amigos hão-de ficar de boca aberta quando te ouvirem rir a olhar para o céu. Mas tu dizes-lhes "Pois é! As estrelas sempre me deram vontade de rir!" E eles ficam a pensar que tu estás maluco. Rica partida que eu te vou pregar, não é?
  E voltou a rir.
 - É como se, em vez de estrelas, eu te desse quinhentos milhões de guizinhos capazes de rir!
 E voltou a rir. Depois, fez-se sério e disse:
 - Esta noite...vê lá se percebes... Não venhas comigo.
 - Vou! Vou! Não te quero abandonar!
 - Mas há-de parecer que me dói muito. Há-de parecer que estou a morrer.
 (...)
 - Vais ter pena. Vai parecer que eu estou morto e não é verdade.
 Eu continuava calado.
 - Percebes?... É que é muito longe e eu não posso levar este corpo... É pesado demais...
 Eu continuava calado.
 - Mas é como uma velha casca abandonada. As cascas velhas não não uma coisa triste...
Eu continuava calado.
(...)
 - Vai ser tão divertido! Tu vais ter quinhentos milhões de guizinhos e eu, quinhentos milhões de fontes...

"O Principezinho", Antoine de Saint-Exupéry

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