sexta-feira, 26 de julho de 2013

O 6º dia.

A minha pequenina partiu há um mês. As últimas horas com ela foram avassaladoras, mágicas, intensas e devastadoras.

Mas há um momento que não vos contei ainda. Ao meu colinho, a Nonô foi baptizada. Na minha cabeça, antes de tudo, ia ser uma festa linda, talvez quando ela fizesse um aninho, e eu e o AF iamos casar-nos pela Igreja no mesmo dia. Não foi assim, mas quando a enfermeira perguntou se queriamos baptizá-la, eu achei que era uma última coisa bonita que podiamos fazer por ela. Uma cerimónia muito íntima, que, nem sei bem porquê, se tornou muito especial para mim.

Não acho que os bebés não baptizados vão para o limbo ou para o inferno ou o que seja. Não me faz sequer sentido existir tal coisa. Acho que todos os bebés que vão antes do tempo vão para um sítio lindo, com tal perfeição que nem cabe no nosso entendimento. Não foi por isso que gostei de a baptizar. Foi a presença do Capelão, de duas das enfermeiras que tão bem cuidaram dela, e nós todos ali a velarmos por ela. Mais pessoas do que nós a dedicarem-lhe uns momentos. E depois ver mais uma vez a rapidez com que "despachou" tudo: foi baptizada, a minha Leonor C. R., recebeu o crisma e a Santa Unção. Uma espécie de curso intensivo da religião. Rezámos todos um Pai-Nosso. E o Capelão rezou por ela também na missa do Hospital nesse dia. Disse-me depois, em telefonema, que contou a história de uma menina muito pequenina que tinha estado muito pouco tempo connosco. E todos rezaram mais uma vez em memória dela.

Foi uma cerimónia muito íntima. Longe do que eu tinha planeado. Mas as dezenas de pessoas que gostaram dela, que torceram por ela, estiveram connosco, no nosso coração. E aposto que a Nô agradece!

Tudo o que for feito para a honrar e lembrar, atenua um bocadinho mais esta dor que teima em ficar pelo meu coração. Agradeço também por me ajudarem diariamente nisto! Tenho revivido muito alguns momentos que mais custaram. E fico muito nervosa, como se pudesse ainda fazer alguma coisa. Quando caio em mim e percebo que não, que já não posso fazer nada, fico muito triste. Hoje tem sido um desses dias... Mas chorar também faz bem. Bate-se no fundo de vez em quando, para depois voltarmos a reerguer-nos. E cada vez com mais força para a honrar, espero.

Para ficarem com os dados do baptizado aqui na nossa paróquia, o Padre de cá enviou-nos uma cartinha. Junto colocou uma oração de Santo Agostinho, com que termino este texto:

"Se conhecesses o mistério imenso do Céu onde agora vivo,
este horizonte sem fim, esta luz que tudo reveste e penetra,
não chorarias, se me amas!
Estou já absorvido no encanto de Deus,
na sua infindável beleza.
Permanece em mim o teu amor,
uma enorme ternura que nem tu consegues imaginar.
Vivo numa alegria puríssima.
Nas angústias do tempo, pensa nesta casa
onde um dia estaremos reunidos para além da morte,
matando a sede na fonte inesgotável da alegria e do amor infinito.
Não chores, se verdadeiramente me amas!"

6 comentários:

  1. deve ter sido um momento bonito. triste, mas bonito. acho que fizeste bem, principalmente se tens fé... de certeza que a Nô é uma estrelinha que está e estará sempre a olhar por ti *

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    1. Foi lindo! Adorei, mesmo! Acho que a Nô também gostou...

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  2. Que bonito! Triste, sim, mas bonito. E tenho a certeza que foi muito muito especial. Beijinho grande*

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    1. É a dicotomia destes 6 dias na nossa vida: bonito e triste. Foi muito especial, sim! *

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  3. faz bem chorar, limpa alma! Ainda hoje falei disso!

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  4. Deve ter sido um momento lindo! Foi por acaso que descobri o seu blog, mas já fiquei fã e já chorei! Admiro a sua força!
    Vou seguir o seu blog com muito carinho... tocou-me bem no coração, talvez por também ter sido mãe á pouco tempo.
    Continue com essa força para ultrapassar este momento

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