sexta-feira, 20 de junho de 2014

Querida Leonor #14

Não tenho escrito muito aqui. Não tenho escrito nada, na verdade... Mas hoje é dia 20. E por isso cá vai...

Faz hoje um ano. E as datas são duras. É duro recordar cada segundo do que correu mal em pormenor. E é duro pensar que o momento em que ouvi o teu choro muito baixinho e fez de mim mãe, me é tão difícil recordar, porque foi a primeira e última vez que o ouvi. E é cruel saber que esse momento, que é suposto ser dos mais bonitos na vida de uma mulher, também foi um marco do que "correu mal". Não era para teres nascido tão cedo, Nô. Não era para teres nascido tão pequenina. E às vezes ainda me é tão difícil aceitar que teve que ser assim...

Mas vinhamos de muitas semanas de sofrimento, de incerteza, de choros altos e choros abafados. Não sabíamos se ia ser possível conhecer-te. Mas foi. E não posso deixar de me sentir privilegiada.

Sabes o que custa mais? Nunca deixámos de acreditar que tudo ia correr bem. E idealizámos esse "correr bem" como ver-te crescer. E desde 2013, vi esta altura em 2014 como o período em que recordaríamos como tudo aconteceu, já contigo bem gordinha e grande ao colo. Idealizei que ias sorrir quando a mamã e o papá apagassem a vela do teu primeiro aninho por ti (porque ainda não ias saber soprar). Mas já ias saber fazer muitas coisas! Custa muito...chegar a este marco e não acontecer o que idealizámos.

Se calhar foi essa a maior lição que nos deste... Se calhar não devemos mesmo idealizar. Devemos estar preparados para receber as bênçãos e os pequenos milagres de todos os dias. Muitas teorias da Felicidade ensinam-nos a viver o AGORA, mas é tão difícil... Deste-nos um treino imenso nisso, Leonor. Vivemos realmente cada dia contigo ao máximo. E ficaram tantas recordações da tua curta vida na Terra, que às vezes me falta o fôlego.

Não aconteceu o que idealizámos. Mas também não idealizámos previamente o que realmente aconteceu. Nunca idealizei poder sentir tanta vontade de viver, de ser feliz, para te honrar. Nunca idealizei a beleza, a harmonia e as cores do mundo que me mostraste (e eu já estava cá no mundo há muito mais tempo do que tu!). Nunca idealizei as pessoas boas que conheci, re-conheci, e que me mostraram a força das palavras, dos abraços, dos silêncios e da compreensão. Nunca idealizei tantas coisas boas que me trouxeste... que só posso realmente aprender a receber o que vem ter comigo, de coração cheio e pleno. Trouxeste-me paz em relação a muitas coisas, trouxeste-me a relativização essencial para viver a minha vida, e trouxeste-me uma companhia importante e permanente: TU, no meu coração. Não mais me senti sozinha.

Só agora, nestes dias... Em que as borboletas brancas, o sol, as nuvens com desenhos de coração, os passarinhos a voar, as joaninhas, os caracóis, os sorrisos, as pegadas na areia, as flores, os arco-íris, não têm conseguido ultrapassar a minha vontade de mudar as tuas fraldas, dar-te leite e sopinhas, ficar louca de sono pelo teu choro, abraçar-te, beijar-te, ensinar-te o que sei.

Custa este dia 20, e custará o 26. E o 24... datas, as datas! Ajuda o sol a brilhar mais um pouco no meu coração, nestes dias.

Parabéns, princesa. Espero que haja uma festa grande desse lado. Um dia vou também assistir a uma dessas...


Sempre tua, sempre por ti, meu anjo,
Mamã Ana

11 comentários:

  1. Um beijinho para a nossa princesa, que está no céu das mais belas princesas. Um abraço forte.

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  2. Muita Força Ana! É um texto mto difícil de ler...beijinho!

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  3. Oh querida fiquei lavada em lágrimas. Imagino como deve ser difícil.
    Um beijo enorme para ti de muita força!

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  4. Um filho nunca deveria ter permissão para partir antes dos seus pais...força...beijinho

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  5. Tens a mais bela das estrelas a olhar por ti minha querida. Acredito piamente que há muito mais para além disto e que muitos reencontros ainda estão para acontecer.

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