quarta-feira, 3 de julho de 2013

Querida Nonô #4

Certo dia, alguém me disse que, quando morremos, revivemos toda a nossa vida num instante. Ficamos com uma consciência totalmente diferente, e as emoções de uma vida inteira podem caber num segundo. Revivemos tudo, o bom, o mau, ponderamos o que poderiamos ter feito melhor, orgulhamo-nos do que concluímos ter feito bem. Depois, revivemos todos os momentos de interacção com outras pessoas sob o ponto de vista delas... Se as marcámos positivamente, são mais momentos de alegria. Se lhes fizemos algum mal, senti-lo-emos em nós nesse momento, e talvez sirva como aprendizagem.

Não sei se é assim, se não. Mas desde aí que, sempre que sou assaltada por um sentimento menos bom, ou ímpeto para ser mais cruel ou agressiva, lembro-me que também eu um dia posso viver esse momento. É uma outra maneira de entender o "faz ao outro o que gostarias que ele te fizesse a ti". Não será propriamente uma forma desinteressada de fazer o bem ao próximo, mas lembrar-nos-emos de o fazer por nós. É um pouco egoísta, sim, mas se servir para sermos melhores, acho que não há maus meios para isso. São todos preciosos.

Tudo isto para te dizer que esta ideia me consola. Consola-me que agora possas estar a reviver todos os momentos da tua curta vida, com todo o amor dos papás, toda a dedicação das tias da UCIN, todo o amor dos poucos que te conheceram ao vivo. E se chegar o momento de reviveres também os momentos de todos quantos tocaste, acho que também podes ficar descansada, porque só cá deixaste coisas boas. E que será melhor do que reviver momentos de amor pleno para toda a eternidade? Talvez fosse isso que quisesses levar de cá... se vivesses mais ias eventualmente experienciar coisas más, dolorosas, e não terias a eternidade de experiências totalmente imaculada.

Se reviveres também os momentos que proporcionaste à mamã dentro da barriga, e sentires alguma angústia e preocupação, não te assustes e não confudas... Tudo isso era, também, AMOR.

Amo-te, Leonor!

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